A obesidade infantil é um desafio crescente para a saúde pública, com causas que vão além da alimentação e da falta de atividade física.
Embora esses fatores sejam muito discutidos, a regulação hormonal também exerce um papel fundamental no controle do peso das crianças.
Os hormônios são responsáveis por funções essenciais, como o controle do apetite, o armazenamento de gordura e o gasto de energia.
Quando há desequilíbrios hormonais, o organismo pode se desregular, aumentando a predisposição das crianças ao ganho de peso.
Assim, para enfrentar a obesidade infantil, é essencial adotar uma abordagem que considere tanto o impacto do estilo de vida quanto o papel do sistema hormonal.
O que é obesidade infantil e como ela é definida em termos de saúde?
A obesidade infantil é uma condição de saúde caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal em crianças e adolescentes.
Ela é diagnosticada através de índices específicos, como o Índice de Massa Corporal (IMC) ajustado para idade e sexo, adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde do Brasil.
De acordo com esses parâmetros, crianças com IMC acima do percentil 95 são consideradas obesas, enquanto aquelas entre os percentis 85 e 95 estão acima do peso.
Conforme dados do Ministério da Saúde do Brasil, aproximadamente 3,1 milhões de crianças com menos de 10 anos são afetadas pela obesidade no país.
Esse número reflete uma preocupação crescente com os impactos da obesidade infantil, que é considerada uma das principais questões de saúde pública global.
Quais são as principais causas da obesidade infantil?
A obesidade infantil é uma condição complexa e multifatorial. Entes as principais causas para essa condição podemos destacar:
Alimentação inadequada e consumo de alimentos ultraprocessados
A ingestão frequente de alimentos com alto teor calórico, ricos em açúcares e gorduras (como salgadinhos, doces e bebidas açucaradas), é um dos maiores responsáveis pelo ganho de peso excessivo em crianças.
Sedentarismo e baixa atividade física
A falta de atividade física regular contribui consideravelmente para a obesidade.
Nesse sentido, podemos observar que o aumento do tempo em atividades sedentárias, como assistir à TV, usar dispositivos eletrônicos e jogar videogames, reduzem o gasto energético diário, o que favorece o acúmulo de peso.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), crianças devem realizar pelo menos 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa diariamente.
Fatores genéticos e predisposição familiar
A genética também possui um papel importante na obesidade infantil.
Dessa forma, filhos de pais obesos têm maior probabilidade de serem obesos devido a uma combinação de fatores genéticos e hábitos de estilo de vida.
Por exemplo, cientistas da Universidade da Virgínia , nos Estados Unidos, publicaram recentemente uma pesquisa na qual identificaram 14 genes que podem contribuir para o desenvolvimento da obesidade e três genes que têm potencial para inibi-la. Mas ainda há muita coisa a descobrir entre os fatores genéticos associados a obesidade.
Influência do ambiente familiar e socioeconômico
A falta de acesso a alimentos saudáveis, em especial em comunidades de baixa renda, também contribui para a obesidade infantil.
Famílias com menos recursos financeiros tendem a consumir alimentos de menor qualidade nutricional devido ao seu baixo custo e alta disponibilidade.
Além disso, hábitos familiares, como o incentivo ao consumo de alimentos rápidos, e o exemplo de comportamentos alimentares podem influenciar as escolhas alimentares das crianças.
Influências psicológicas e emocionais
Questões emocionais e de saúde mental também podem contribuir para o ganho de peso.
Assim, crianças que experimentam estresse, ansiedade ou depressão, muitas vezes, recorrem a alimentos ricos em açúcar e gordura como uma forma de conforto.
Nesse contexto também podemos citar o cortisol, conhecido como o “hormônio do estresse”, conforme veremos a seguir.
Como os hormônios podem influenciar o ganho de peso infantil?
Os hormônios são fundamentais na regulação do metabolismo, do apetite e do armazenamento de gordura, influenciando bastante o ganho de peso em crianças.
Diversos são os hormônios que podem influenciar o quadro, a saber:
Hormônios da tireoide
Baixos níveis de hormônios tireoidianos, causados pelo hipotireoidismo, podem reduzir o metabolismo e contribuir para o ganho de peso.
Este estudo avaliou a relação entre a obesidade e a função da tireoide e citou que o hipotireoidismo pode induzir mudanças na taxa metabólica basal com aumento subsequente do IMC.
Além disso, a obesidade também pode afetar a função da tireoide por meio de vários mecanismos, como a lipotoxicidade e alterações na secreção de adipocinas e citocinas inflamatórias.
Cortisol
Níveis elevados de cortisol, o hormônio do estresse, podem estar associados à obesidade.
Este artigo discute como o estresse crônico leva à ativação excessiva do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, resultando em aumento do cortisol que, por sua vez, contribui para o aumento do apetite e o desejo de comer.
Insulina
Este é um hormônio responsável pela regulação dos níveis de glicose no sangue e também influencia o armazenamento de gordura.
Em crianças com sobrepeso, a resistência à insulina é comum e pode resultar em níveis elevados de glicose e insulina, promovendo o acúmulo de gordura corporal.
Este estudo confirma a presença de resistência à insulina em muitas crianças e adolescentes obesos, associando-a a alterações que aumentam o risco de distúrbios metabólicos na maturidade.
Leptina e grelina
Esses hormônios regulam a fome e a saciedade. Desequilíbrios podem contribuir para o aumento do apetite e a dificuldade em controlar o peso.
De acordo com esse estudo, a leptina, produzida pelo tecido adiposo, envia sinais ao cérebro para indicar a sensação de saciedade, enquanto a grelina, secretada pelo estômago, estimula o apetite.
Em crianças obesas, há evidências de que ocorre resistência à leptina, o que resulta em um aumento na ingestão calórica, dificultando o controle do peso.
Além disso, altos níveis de grelina foram associados ao aumento da fome, o que pode contribuir para a obesidade infantil.
Hormônio do crescimento (GH)
Níveis baixos podem estar relacionados a problemas de crescimento e, em alguns casos, ao aumento de gordura corporal.
Deficiências ou desequilíbrios nesse hormônio podem afetar o metabolismo e a composição corporal, contribuindo para o ganho de peso excessivo.
No nosso blog, temos um artigo para você que quer entender como avaliar o crescimento infantil, acesse e saiba mais!
Quais são os riscos à saúde associados à obesidade infantil?
A obesidade infantil está associada a diversos riscos à saúde que afetam as crianças tanto no curto quanto no longo prazo.
A curto prazo, os impactos mais comuns incluem dificuldades respiratórias, problemas articulares, fadiga e baixa autoestima.
A obesidade infantil também aumenta o risco de desenvolver resistência à insulina, o que pode evoluir para diabetes tipo 2.
A obesidade infantil pode ter impacto no crescimento, aumentando as chances da criança ou adolescente não alcançar sua estatura alvo.
Além disso, condições como hipertensão arterial e dislipidemia (altos níveis de colesterol e triglicerídeos) são mais frequentes em crianças obesas, expondo-as a complicações cardiovasculares precoces.
No longo prazo, ressaltamos que os riscos se tornam ainda mais graves.
Crianças obesas têm maior probabilidade de permanecer obesas na vida adulta, enfrentando um risco elevado de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas, certos tipos de câncer e osteoartrite.
Também é comum que problemas psicológicos, como depressão e ansiedade, persistam e se agravem com o tempo, em grande parte devido ao estigma social e às dificuldades emocionais associadas ao ganho de peso.
No nosso blog, temos um artigo explicando em detalhe a relação entre obesidade e saúde mental, acesse e entenda!
Por fim, o impacto da obesidade infantil na saúde é ainda mais preocupante no contexto da existência de determinadas doenças, como o COVID-19.
Esse artigo destaca que a obesidade aumenta a suscetibilidade e a gravidade da infecção por COVID-19 em crianças e adolescentes.
Jovens obesos apresentam maior risco de complicações graves devido à resistência à insulina, hipertensão e altos níveis de citocinas pró-inflamatórias, que intensificam a resposta inflamatória do organismo ao vírus.
Como é possível prevenir e tratar a obesidade infantil?
Prevenir e tratar a obesidade infantil exige uma abordagem multidisciplinar, com equipe composta por Nutricionistas, Endocrinologistas Pediátricos, Pediatras, Educadores físicos.
Especificamente em relação aos hormônios e alterações metabólicas , a avaliação criteriosa em crianças obesas é uma etapa essencial para entender possíveis fatores que contribuem para o ganho de peso e determinar o tratamento mais adequado.
O endocrinologista é o profissional indicado para realizar essa investigação, pois tem o conhecimento específico para identificar desequilíbrios hormonais que possam influenciar na obesidade infantil.
Caso seja identificada relação entre a obesidade infantil e alguma condição hormonal específica, o tratamento será direcionado para o problema identificado.
Dependendo dos resultados da avaliação podemos propor uma série de ações:
Alimentação balanceada
Um dos pilares da prevenção é promover uma alimentação saudável e equilibrada, rica em frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais.
Esses alimentos ajudam a regular os níveis de insulina e evitam picos de açúcar no sangue que podem contribuir para o ganho de peso.
Atividade física regular
O exercício é fundamental tanto para a queima de calorias quanto para a regulação hormonal.
A prática regular de atividades físicas moderadas a intensas auxilia no controle dos níveis de cortisol (hormônio do estresse), que, quando em excesso, pode estimular o acúmulo de gordura abdominal.
Exercícios também ajudam a melhorar a sensibilidade à insulina, reduzindo o risco de resistência à insulina e diabetes.
Gestão do estresse
Crianças expostas a altos níveis de estresse tendem a liberar mais cortisol, o que pode promover o ganho de peso.
Técnicas de relaxamento, como a prática de ioga e exercícios de respiração, ajudam a controlar o estresse e a reduzir a liberação de cortisol, promovendo um ambiente hormonal mais equilibrado.
Tratamento medicamentoso
Quando identificado um desequilíbrio hormonal específico, como hipotireoidismo, podemos indicar tratamento com medicamentos que ajustem os níveis hormonais.
A escolha do medicamento e da dosagem depende da avaliação detalhada e acompanhamento cauteloso dos níveis hormonais e do estado geral de saúde da criança.
Educação e apoio familiar
É importante que toda a família esteja envolvida nas mudanças de estilo de vida.
A educação sobre alimentação saudável e a promoção de um ambiente familiar que incentiva bons hábitos reduzem o risco de obesidade infantil e promovem um desenvolvimento saudável.
Acompanhamento psicológico
A obesidade infantil pode estar associada a questões emocionais e comportamentais, como compulsão alimentar.
Um suporte psicológico pode ajudar a criança a adotar hábitos saudáveis e a lidar com possíveis problemas emocionais relacionados à alimentação.
Monitoramento contínuo
Após o início do tratamento, o endocrinologista realiza um acompanhamento regular para monitorar a evolução da criança e ajustar o tratamento conforme necessário.
Isso pode incluir novos exames hormonais para verificar o impacto das intervenções.
Obesidade infantil: conte com o apoio do endocrinologista pediátrico
Como vimos, a obesidade infantil é uma condição complexa e, para tratá-la adequadamente, o acompanhamento de um endocrinologista pediátrico pode fazer toda a diferença.
Quando uma criança apresenta ganho de peso excessivo sem uma causa aparente, podemos realizar exames hormonais que possam revelar desequilíbrios, como resistência à insulina, hipotiroidismo ou alterações nos níveis de hormônio do crescimento (GH).
Além disso, em casos específicos e sob supervisão médica, podemos indicar tratamentos específicos .
Entretanto, é fundamental que esses tratamentos sejam recomendados apenas em situações que realmente necessitem.
Portanto, se você percebe que seu filho(a) pode estar lidando com problemas de peso associados a questões hormonais, não hesite em buscar apoio.
Agende uma consulta com um de nossos especialistas em endocrinologia infantil para darmos início a um tratamento que possa proporcionar mais saúde e bem-estar para a criança!