A insuficiência adrenal é uma condição rara, mas grave, que pode impactar significativamente a saúde e o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Caracterizada pela produção insuficiente de hormônios essenciais pelas glândulas adrenais, essa disfunção pode afetar não apenas o crescimento físico, mas também o bem-estar emocional e o desempenho cognitivo dos jovens.
Portanto, compreender como essa condição pode interferir em diferentes aspectos do desenvolvimento do seu filho é fundamental para reconhecer os sinais precocemente e garantir um tratamento eficaz.
O que é a insuficiência adrenal?
A insuficiência adrenal é uma condição médica em que as glândulas adrenais não produzem hormônios suficientes, especialmente cortisol e, em alguns casos, aldosterona.
As glândulas adrenais são pequenas estruturas localizadas acima dos rins e são essenciais para várias funções vitais do corpo, incluindo a resposta ao estresse, a regulação da pressão arterial e o equilíbrio de eletrólitos.
É importante saber que, nas crianças, estudos revelam que a maioria dos casos de insuficiência adrenal é causada pela hiperplasia adrenal congênita, especialmente pela deficiência de 21-hidroxilase, uma enzima fundamental no processo de produção de hormônios pelas glândulas adrenais.
Assim, entre os tipos de insuficiência adrenal, estão:
- Insuficiência adrenal primária (doença de Addison): este tipo ocorre quando as glândulas adrenais são diretamente danificadas e não conseguem produzir hormônios em quantidades adequadas. As causas mais comuns incluem doenças autoimunes, infecções como a tuberculose, ou a remoção cirúrgica das glândulas adrenais;
- Insuficiência adrenal secundária: este tipo resulta de uma falha na produção do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) pela hipófise, que é responsável por estimular as glândulas adrenais a produzir cortisol. A insuficiência adrenal secundária pode ser causada por lesões na hipófise, tumores e também pelo estresse, o que pode, inclusive, gerar riscos para a vida do paciente.
Como a insuficiência adrenal afeta o desenvolvimento das crianças e adolescentes?
A insuficiência adrenal pode ter um impacto no desenvolvimento físico e mental de crianças e adolescentes, entenda melhor abaixo:
Crescimento retardado
O cortisol tem um papel importante na regulação do metabolismo e do crescimento ósseo.
Sem cortisol suficiente, o corpo pode não crescer em altura como deveria.
Ademais, a insuficiência adrenal pode retardar o início da puberdade, ou interromper o progresso dela, devido à influência dos hormônios adrenais nos processos hormonais do corpo.
Dificuldades no ganho de peso
A falta de cortisol pode levar a uma diminuição no apetite, resultando em perda de peso e dificuldades no ganho de massa corporal adequada para a idade.
O cortisol também regula o metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras.
Sem ele, pode haver uma redução na eficiência metabólica.
Problemas cognitivos e emocionais
Crianças com insuficiência adrenal podem ter problemas de memória, dificuldades de concentração e menor capacidade de aprender novas informações.
Além disso, alterações nos níveis de cortisol podem levar a mudanças de humor, incluindo depressão ou tristeza, ansiedade ou irritabilidade excessiva.
Fraqueza muscular e fadiga crônica
A insuficiência de cortisol e aldosterona pode causar fraqueza muscular e fadiga crônica, o que pode limitar a capacidade de participar de atividades físicas e, em casos graves, afetar a mobilidade geral.
Problemas com a regulação de eletrólitos
A deficiência de aldosterona pode levar a um desequilíbrio de eletrólitos, resultando em pressão baixa, desidratação e, em casos graves, problemas cardíacos.
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Quais são os sintomas da insuficiência adrenal em crianças e adolescentes?
Os sintomas da insuficiência adrenal em crianças e adolescentes podem ser sutis e desenvolver-se gradualmente, entre eles, estão:
- Fadiga e fraqueza: crianças e adolescentes podem sentir-se constantemente cansados e apresentar uma fraqueza muscular;
- Perda de apetite e perda de peso: a diminuição do apetite é comum, levando à perda de peso e potencialmente ao atraso no crescimento;
- Hipotensão: a pressão arterial baixa pode causar tonturas, desmaios, e uma sensação geral de fraqueza;
- Hipoglicemia: a insuficiência adrenal pode causar episódios de hipoglicemia, que se manifestam como tremores, sudorese, confusão e, em casos graves, desmaios;
- Náuseas, vômitos e dores abdominais: problemas gastrointestinais são sintomas comuns e podem ser acompanhados por dores abdominais;
- Mudanças de humor: podem ocorrer alterações de humor, incluindo irritabilidade, depressão ou apatia, devido ao impacto da insuficiência hormonal sobre o cérebro;
- Hiperpigmentação da pele (na Doença de Addison): um escurecimento da pele, especialmente em áreas de dobras (como cotovelos e joelhos) ou cicatrizes, pode ser um sinal da insuficiência adrenal primária.
Como realizamos o diagnóstico dessa condição?
Inicialmente, o endocrinologista pediátrico revisa o histórico médico do paciente, prestando atenção a sintomas relacionados à insuficiência adrenal.
Também consideramos fatores de risco, como histórico familiar de doenças endócrinas.
Durante o exame físico, buscamos por sinais específicos, como hiperpigmentação da pele, que pode indicar a Doença de Addison, além de observar a pressão arterial baixa e possíveis atrasos no crescimento ou desenvolvimento puberal.
Para complementar a avaliação clínica, solicitamos a realização de exames laboratoriais.
Nesse sentido, a medição dos níveis de cortisol no sangue, especialmente pela manhã, é fundamental, pois níveis baixos podem indicar insuficiência adrenal.
Ademais, para confirmar o diagnóstico, pode ser realizado um teste de estimulação com ACTH (hormônio adrenocorticotrópico), no qual uma injeção de ACTH é administrada e os níveis de cortisol são medidos antes e depois do teste.
A medição dos níveis de ACTH no sangue também é importante, pois ajuda a distinguir entre insuficiência adrenal primária e secundária.
Por fim, para identificar possíveis anomalias nas glândulas adrenais ou na hipófise, podemos encaminhar o paciente para a realização de exames de imagens.
Esses exames de imagem ajudam a fornecer um diagnóstico mais completo e a orientar o tratamento adequado.
Como realizamos o tratamento da insuficiência adrenal em crianças e adolescentes?
O tratamento de primeira linha envolve a administração de corticosteroides para substituir o cortisol, com a hidrocortisona sendo geralmente a escolha preferida em crianças.
Então, ajustaremos a dose do medicamento conforme o peso e a necessidade da criança.
Se a insuficiência adrenal é primária e a produção de aldosterona também está comprometida, poderemos prescrever fludrocortisona para ajudar a regular o equilíbrio de sódio e potássio e manter a pressão arterial.
Reforçamos que o tratamento requer um monitoramento a longo prazo, com consultas regulares ao endocrinologista pediátrico para acompanhar o crescimento, o desenvolvimento puberal e ajustar as doses dos medicamentos conforme a criança cresce.
Exames laboratoriais periódicos podem ser necessários para garantir que os níveis de cortisol, eletrólitos e outros marcadores hormonais estejam adequados e que o tratamento esteja funcionando.
Além disso, estudos reforçam a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, envolvendo especialistas de diferentes áreas, para garantir que os pacientes recebam o tratamento adequado durante situações de estresse.
Nesse caso, o endocrinologista irá trabalhar em conjunto com o especialista em saúde mental para fornecer o apoio necessário à criança e à família.
Também é essencial que a criança ou adolescente tenha um kit de emergência contendo injeções de hidrocortisona para uso em caso de crise adrenal.
Como vimos, se não tratada adequadamente, a insuficiência adrenal pode ter consequências duradouras no desenvolvimento físico, mental e emocional da criança.
Portanto, caso você perceba qualquer sintoma relacionado à essa condição em seu filho, agende uma consulta o quanto antes com os especialistas do Centro Afeto.