Obesidade e saúde mental: entendendo esta intrínseca relação

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Na atualidade, a obesidade emerge como um dos mais desafiadores problemas de saúde pública, interligando-se com questões de saúde mental em um ciclo complexo.

À medida que estudos avançam sobre esse assunto, nos deparamos com previsões alarmantes: até 2030, estima-se que três em cada dez adultos no Brasil podem se tornar obesos.

Este dado, publicado em julho de 2022 na revista Nature, ressalta não apenas a crescente prevalência da obesidade, mas também antecipa as implicações para a saúde física e mental da população.

Nesse sentido, a intersecção dessas duas áreas revela uma complexidade que vai além da simples correlação entre excesso de peso e bem-estar.

Envolve uma teia de fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais que se influenciam mutuamente, afetando a qualidade de vida, a autoimagem e até mesmo a longevidade dos indivíduos.

Portanto, ao reconhecermos a obesidade e a saúde mental como componentes interconectados, abrimos caminho para tratamentos mais integrados, que respondam às necessidades de cada paciente.

O que é a obesidade? 

A obesidade é uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, a ponto de poder afetar negativamente a saúde do paciente.

Ela é tipicamente medida pelo índice de massa corporal (IMC), que é calculado dividindo o peso da pessoa (em quilogramas) pela altura ao quadrado (em metros).

Dessa forma, um indivíduo com IMC de 30 ou mais é considerado obeso.

Além da questão do peso, A Organização Mundial da Saúde indica o acúmulo de gordura como fator de risco para várias doenças, incluindo:

  • Doenças cardíacas;
  • Diabetes tipo 2;
  • Hipertensão;
  • Certos tipos de câncer;
  • Doenças do fígado e da vesícula biliar;
  • Apneia do sono;
  • Osteoartrite;
  • Problemas de saúde mental como depressão e ansiedade.

As causas da obesidade são complexas e multifatoriais, envolvendo uma combinação de fatores genéticos, comportamentais, metabólicos, hormonais e psicológicos.

Qual a relação entre obesidade e saúde mental?

A relação entre obesidade e saúde mental é complexa e bidirecional, significando que cada uma pode influenciar a outra de várias maneiras, confira abaixo:

Como a obesidade afeta a saúde mental:

Estigma e discriminação

Pessoas com obesidade enfrentam estigma e discriminação em várias esferas da vida, incluindo no local de trabalho, na escola, e até mesmo em ambientes de cuidados de saúde.

Isso pode levar a sentimentos de rejeição, baixa autoestima, isolamento social, e depressão.

Autoimagem corporal negativa

Vivemos em uma sociedade que valoriza a magreza como um ideal de beleza, o que pode levar pessoas com obesidade a terem uma imagem corporal negativa e insatisfação com o próprio corpo, contribuindo para o desenvolvimento de depressão e ansiedade.

Problemas físicos e limitações

As condições de saúde associadas à obesidade, como dor crônica e dificuldades de mobilidade, também podem afetar a saúde mental, limitando as atividades diárias e diminuindo a qualidade de vida.

Questões genéticas e metabólicas

Estudos têm sido feitos para entender a relação fisiológica entre obesidade e sintomas psiquiátricos. Ainda não há conclusão, mas há indicativos que alterações na microbiota intestinal, em genes específicos e em processos inflamatórios possam estar envolvidos na bidirecionalidade entre as duas doenças. 

Como a saúde mental contribui para a obesidade:

Comportamento alimentar compulsivo

Problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, podem levar ao comportamento alimentar compulsivo ou ao uso de alimentos como mecanismo de enfrentamento para lidar com emoções negativas.

Sedentarismo

A falta de energia e motivação, sintomas comuns de várias condições de saúde mental, podem resultar em níveis reduzidos de atividade física, contribuindo para o ganho de peso e a obesidade.

Uso de medicamentos psiquiátricos

Certos medicamentos utilizados no tratamento de condições de saúde mental podem ter efeitos colaterais que promovem o ganho de peso.

Assim, fica claro que pacientes com obesidade entram em um ciclo: a obesidade pode causar problemas mentais, que fomentam e estimulam o quadro de obesidade.  

A presença de um transtorno de humor ou outro transtorno psiquiátrico, na maioria dos casos, está associado ao ganho de peso.

Reforçando que as doenças psiquiátricas e a obesidade apresentam mecanismos genéticos e moleculares comuns, o que sustenta ainda mais a ideia de ser bidirecional a influência de uma sobre a outra. 

Qual a importância de contar com especialistas em saúde mental e nutrição durante o tratamento?

É preciso deixar claro que o tratamento da obesidade é complexo e demanda equipe multidisciplinar. 

Nutricionistas são capazes de desenvolver planos alimentares personalizados que atendem às necessidades individuais, preferências e condições de saúde, além de educar sobre escolhas alimentares saudáveis.

Eles ajudam a combater mitos envolvendo as dietas e promovem a relação saudável do paciente com a forma que se nutre. 

Paralelamente, psicólogos e psiquiatras oferecem apoio emocional indispensável, ajudando a compreender e tratar os sentimentos de frustração, baixa autoestima, ansiedade e depressão que podem estar presentes no início do processo de emagrecimento ou aparecer ao longo dele.

Eles são essenciais na identificação e modificação de comportamentos e dos hábitos alimentares não saudáveis, como a compulsão alimentar, contribuindo para a perda de peso sustentável e a prevenção de reganho.

Além disso, esses profissionais auxiliam na motivação, na definição de metas realistas e no diagnóstico e tratamento de transtornos alimentares quando necessário.

Já o endocrinologista avalia os fatores hormonais que podem contribuir para o ganho de peso e trabalha em estreita colaboração com o paciente para desenvolver um plano de tratamento personalizado. 

Isso pode envolver mudanças no estilo de vida, dieta balanceada, exercícios físicos adequados e, em alguns casos, o uso de medicamentos específicos para auxiliar na perda de peso. 

O acompanhamento regular com o endocrinologista é essencial para monitorar o progresso, ajustar o tratamento conforme necessário e fornecer apoio contínuo ao paciente em sua jornada rumo a uma vida mais saudável e equilibrada.

Portanto, a integração desses profissionais assegura uma abordagem mais personalizada e um suporte contínuo, enfatizando a saúde global e não apenas a perda de peso.

Isso garante não só a melhoria no bem-estar geral, mas também promove uma jornada de emagrecimento mais sustentável.

Quais hábitos um paciente com obesidade deve adotar para preservar a saúde mental?

Para pacientes com obesidade, a preservação da saúde mental é tão importante quanto o gerenciamento do peso.

Assim, adotar hábitos que fomentem o bem-estar pode ajudar a melhorar a qualidade de vida e facilitar o processo de perda de peso.

Aqui estão algumas estratégias:

Atividade Física regular

A prática de exercícios físicos não só ajuda na perda de peso.

Ela também é benéfica para a saúde mental, liberando endorfinas que promovem sensações de felicidade e reduzem o estresse, a ansiedade e a depressão.

Alimentação saudável e consciente

Optar por uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, pode melhorar o estado de ânimo geral.

Ademais, a prática da alimentação consciente ajuda a criar uma relação mais saudável com a comida, focando na experiência e satisfação de comer, em vez de restrições.

Um estudo conduzido a pedido da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), revelou que 70% dos brasileiros experienciam ou já experimentaram a fome emocional.

Esse fenômeno ocorre quando o indivíduo recorre à alimentação como um meio de recompensa ou para gerir suas emoções, em vez de responder a uma real necessidade fisiológica de consumo de energia.

Sono de qualidade

Uma noite de descanso é fundamental para a saúde mental.

A obesidade pode aumentar o risco de distúrbios do sono, como a apneia, que, por sua vez, afeta negativamente o humor e o bem-estar mental.

Gerenciamento do estresse

Práticas como meditação, yoga, técnicas de respiração profunda e atenção plena podem ajudar a gerenciar o estresse, um fator que frequentemente contribui para o ganho de peso e problemas de saúde mental.

Estabelecer metas realistas

Definir metas de perda de peso realistas e atingíveis pode ajudar a evitar a frustração e a promover uma sensação de conquista, o que é positivo para a saúde mental.

Atividades de Lazer

Engajar-se em hobbies e atividades que trazem alegria pode ajudar a reduzir o estresse e aumentar a satisfação com a vida.

Além disso, é sempre recomendável consultar especialistas de diferentes áreas para orientações personalizadas e apoio ao longo desse processo.

Então, se você está em procura de apoio para lidar com questões emocionais e ao mesmo tempo perder peso, agende uma consulta com um de nossos especialistas!

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