Nesse mês, a campanha do Setembro Amarelo ganha destaque em todo o país, reforçando a importância da conscientização sobre a prevenção do suicídio.
Nesse período, a sociedade é convidada a discutir e entender mais sobre os sinais de alerta, os fatores de risco e, principalmente, as opções de tratamento para quem enfrenta pensamentos suicidas.
Apesar deste ainda ser um tema delicado e cheio de tabus, atualmente, existem diversas abordagens para a suicidalidade com eficácia comprovada cientificamente.
Várias técnicas psicoterapêuticas abordam o risco de suicídio. Os resultados mais consistentes em transtornos de humor e outros transtornos em termos de redução do risco de comportamento suicida foram obtidos com terapia cognitivo-comportamental (Brown et al., 2005). Especificamente no Transtorno de Personalidade Borderline [TPB], a Terapia Comportamental Dialética [TCD] e a Psicoterapia Focada na Transferência também aparecem como possibilidades na abordagem do comportamento suicida.
Em relação à terapia farmacológica, destacam-se o uso de medicamentos como Lítio e Clozapina, além de intervenções como a Eletroconvulsotetapia (ECT) e o tratamento com Escetamina.
Cada uma dessas opções tem seu papel específico no manejo da suicidalidade, oferecendo alternativas de cuidado para aqueles que estão em sofrimento.
Acompanhe neste artigo!
Quais são os sinais relacionados à suicidalidade?
Conforme orienta o Ministério da Saúde, os sinais que indicam risco de suicídio não devem ser considerados isoladamente.
É preciso notar que não existe uma fórmula para identificar se alguém cultivando ideias suicidas.
Porém, pessoas em sofrimento podem mostrar sinais que merecem atenção, especialmente quando esses aparecem ao mesmo tempo, confira abaixo:
Alterações no comportamento ou falas preocupantes por um período mínimo de duas semanas
Essas mudanças não devem ser encaradas como simples ameaças ou tentativas de manipulação emocional.
Foco excessivo em temas relacionados à morte ou sensação de falta de esperança
indivíduos sob risco de suicídio costumam falar mais frequentemente sobre morte e suicídio, expressando sentimentos de desesperança, culpa, baixa autoestima e uma visão pessimista sobre o futuro.
Declarações de intenções ou pensamentos suicidas
Preste sempre atenção a frases como: “Eu vou sumir”, “Vou deixar vocês tranquilos”, “Queria poder dormir e nunca mais acordar”, “Não vale mais a pena tentar, só quero morrer”.
Afastamento social
Pessoas com ideação suicida podem se isolar, não respondendo a telefonemas, interagindo menos, ficando reclusas em casa ou em seus quartos, e evitando atividades que antes gostavam de fazer.
Também é importante nos mantermos atentos a contextos que podem afetar a saúde mental do paciente.
Isso incluir situações como desemprego, crises políticas ou econômicas, discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero, violência psicológica ou física, estresse no ambiente de trabalho, negligência, conflitos familiares, luto e doenças crônicas ou incapacitantes.
Embora esses fatores não sejam determinantes para o suicídio, eles podem aumentar a vulnerabilidade, especialmente se acompanhados dos sinais de alerta que citamos acima.
Como realizamos o diagnóstico da suicidalidade?
O diagnóstico da suicidalidade é realizado pelo psiquiatra num processo detalhado e cuidadoso, que começa com uma entrevista clínica abrangente.
Nessa entrevista, exploramos o histórico médico, psicológico e psiquiátrico do paciente, buscando identificar pensamentos suicidas, planos, intenções e a presença de fatores de risco, como tentativas anteriores e depressão.
Analisamos diretamente se o paciente tem pensamentos recorrentes sobre a morte, se deseja morrer ou se já fez planos específicos para tirar a própria vida.
Essa análise inclui a avaliação da intensidade, frequência e duração desses pensamentos.
Ademais, avaliamos fatores de risco adicionais, como isolamento social, doenças crônicas e perda de suporte social, enquanto identificamos fatores de proteção, como relacionamentos positivos e crenças espirituais.
Em alguns casos, podemos solicitar exames físicos, neurológicos ou testes psicológicos para descartar outras condições médicas que possam estar influenciando o estado mental do paciente.
Com base nas informações coletadas, decidimos sobre a necessidade de intervenção imediata, que pode incluir o uso de medicamentos, hospitalização para proteção, encaminhamento para terapia intensiva, entre outras opções.
Reforçamos que o diagnóstico da suicidalidade deve ser sempre feito de forma sensível e colaborativa, levando em consideração o contexto individual do paciente, para garantir que ele receba o apoio necessário no momento certo.
Quais são as opções de tratamentos para suicidalidade?
Apesar de não serem divulgados, existem diversas opções de tratamento para a prevenção do suicídio, cada um com mecanismos de ação específicos e evidências que suportam sua eficácia em diferentes contextos clínicos.
Assim, entre as principais abordagens, destacamos:
Lítio
O lítio é amplamente reconhecido como uma das opções mais eficazes para a prevenção do suicídio, especialmente em pacientes com transtornos de humor, como o transtorno bipolar.
Essa substância atua estabilizando o humor e modulando neurotransmissores no cérebro, o que pode ajudar a diminuir a intensidade dos episódios depressivos e maníacos que podem preceder comportamentos suicidas.
Além disso, o lítio pode ter efeitos neuroprotetores que contribuem para a sua eficácia na redução do risco de suicídio.
Diversas são as pesquisas que corroboram os efeitos positivos do lítio na prevenção do suicídio.
Um estudo que executou uma revisão sistemática abrangente concluiu que o lítio é uma intervenção eficaz para reduzir o risco de suicídio e comportamento suicida em pacientes com transtornos de humor.
O documento também sublinha a importância do uso do lítio como parte do tratamento de longo prazo para pacientes que apresentam risco elevado de comportamento suicida, especialmente aqueles com transtorno bipolar e depressão maior.
Outro estudo também foca na revisão sistemática em busca de evidências da relação entre o uso do lítio e a redução das taxas de suicídio e conclui que os efeitos anti-suicidas do medicamento foram confirmados, além de reforçar a importância dos tratamentos farmacológicos e psicológicos para a depressão na prevenção do suicídio.
No entanto, reforça que, na busca por iniciativas eficazes de prevenção do suicídio, nenhuma estratégia se destaca claramente acima das outras e que o uso de estratégias baseadas em evidências é fundamental.
Clozapina
A clozapina é um antipsicótico atípico que tem sido estudada e utilizada na prevenção do suicídio devido à sua eficácia em tratar transtornos psicóticos graves e depressivos resistentes a outros tratamentos.
É frequentemente prescrita para pacientes com esquizofrenia ou transtorno bipolar que têm comportamentos suicidas, especialmente quando outros tratamentos falharam.
Acredita-se que a medicação tenha efeitos benéficos sobre os sintomas psicóticos e os estados emocionais associados ao risco suicida.
Inclusive, pesquisas indicam a sua alta eficácia no controle dos sintomas psicóticos.
Um estudo recente aponta um efeito anti-suicídio superior da clozapina na esquizofrenia/distúrbio esquizoafetivo, comparado a outros antipsicóticos ou à ausência de terapia antipsicótica.
Os potenciais fundamentos biológicos do efeito anti-suicídio da clozapina incluem seu perfil único de modulação dos neurotransmissores cerebrais, sua não seletividade para receptores de neurotransmissores, fatores genéticos e hormonais específicos, efeitos sobre a neuroinflamação e capacidade de induzir atividade epileptiforme.
Outra pesquisa que examina a relação entre o uso da clozapina e a redução das taxas de suicídio concluiu que os efeitos anti-suicidas do medicamento foram confirmados.
Ou seja, este medicamento pode ser uma opção valiosa na prevenção do suicídio para pacientes com transtornos psicóticos graves, especialmente aqueles que não responderam a outros tratamentos.
Contudo, o uso deve ser cuidadosamente monitorado e avaliado por um profissional de saúde mental qualificado.
Eletroconvulsoterapia (ECT)
A ECT é uma intervenção utilizada em casos graves de depressão e em situações de risco iminente de suicídio, onde outras abordagens farmacológicas ou psicoterapêuticas não se mostraram eficazes.
É um tratamento frequentemente utilizado para pacientes com depressão severa, mania ou esquizofrenia e acredita-se que pode reduzir significativamente o risco de suicídio em pacientes com transtornos mentais graves.
Embora o mecanismo exato de ação da ECT não seja completamente compreendido, sua eficácia está documentada.
Esse artigo, por exemplo, conclui que a Terapia Eletroconvulsiva (ECT) atua na redução da gravidade dos sintomas depressivos na fase aguda de tratamento em pacientes com episódios depressivos maiores.
Uma pesquisa realizada recentemente aponta que houve reduções substanciais e estatisticamente significativas no número de incidentes de automutilação e tentativas de suicídio ao comparar o mês anterior e o mês seguinte ao início da Eletroconvulsoterapia, comprovando o efeito protetor da ECT sobre a suicidabilidade.
Portanto, este tratamento representa uma opção importante no manejo de transtornos mentais graves com risco elevado de suicídio, oferecendo uma intervenção eficaz para melhorar a segurança e a qualidade de vida dos pacientes.
Entretanto, sua escolha deve ser individualizada, considerando os efeitos colaterais e as preferências dos pacientes.
Escetamina
A escetamina, um análogo da cetamina, é um antidepressivo de ação rápida recentemente aprovado para o tratamento da depressão resistente ao tratamento.
Administrada via spray nasal, a escetamina tem mostrado resultados promissores.
Estudos mostraram que doses sub anestésicas da escetamina proporcionam uma rápida resolução dos sintomas depressivos em pacientes com transtorno depressivo maior resistente ao tratamento, embora geralmente de curta duração.
Esta substância atua sobre o sistema glutamatérgico no cérebro, o que pode contribuir para seus efeitos rápidos e significativos na redução dos sintomas depressivos e suicidas.
Assim, seu uso na prevenção do suicídio tem ganhado atenção crescente. Inclusive, um estudo que avalia as abordagens farmacológicas na prevenção do suicídio aponta a escetamina como um destaque para crises suicidas agudas.
Ou seja, este medicamento representa uma opção promissora para a prevenção do suicídio, especialmente em casos de depressão resistente ao tratamento.
No entanto, seu uso deve ser cuidadosamente gerenciado e a substância costuma ser administrada em um ambiente clínico controlado para garantir a segurança dos pacientes.
Temos um artigo que aborda mais o uso da escetamina no nosso Blog!
Prevenção do suicídio: conte com os especialistas em saúde mental
Estar atento a qualquer pessoa que apresente sinais de pensamentos suicidas é fundamental para a prevenção.
Esses sinais não devem ser ignorados, e a busca por ajuda profissional é essencial.
No Centro Afeto, contamos com uma equipe de psiquiatras e psicólogos altamente capacitada.
Considerando a gravidade dos sintomas e o histórico clínico, nossos especialistas estão prontos para ajudá-lo a escolher o tratamento mais adequado entre as opções acima.
Portanto, se você ou alguém que conhece está passando por um momento difícil, agende uma consulta conosco para um acompanhamento cuidadoso.
Cuidar da saúde mental é um passo importante para a prevenção e o bem-estar!